Título da obra: A Serpente


Reprodução Fotográfica Iara Venanzi/ Itaú Cultural
Sem Título
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1983
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Antonio Dias
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl
Antonio Manuel Lima Dias (Campina Grande, Paraíba, 1944 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018). Artista visual e multimídia. Passa a infância em cidades do Nordeste brasileiro e aprende técnicas de desenho com o avô paterno. Em 1958, muda-se para o Rio de Janeiro e trabalha como desenhista e artista gráfico. Em 1959, faz ilustrações para a revista Senhor.
Nessa época, frequenta aulas de Oswaldo Goeldi (1895-1961), no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), e conhece artistas do Grupo Frente. Sua primeira exposição individual acontece em 1962, na Galeria Sobradinho, Rio de Janeiro. Participa da mostra Opinião 65, marco do surgimento do novo realismo nas artes. No mesmo ano, colecionadores e o crítico francês Pierre Restany (1930-2003) organizam uma individual de Dias na 4a Bienal de Paris. O artista recebe bolsa do governo francês e testemunha as manifestações de maio de 1968. Nesse período, produz trabalhos em videotape, distribuídos pelos Arquivos Históricos da Bienal de Veneza. Em 1968, é contratado pelo Studio Marconi, em Milão, onde conhece a arte povera1.
Em 1972, recebe a bolsa Guggenheim, em Nova York, quando edita os filmes da série Illustrations of Art, iniciada em Milão. De volta à Europa, é convidado pelo artista alemão Joseph Beuys (1921-1986) para coordenar a seção latino-americana da Free International University (FIU). Em 1974, produz uma grande instalação no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). No ano seguinte, participa do Festival of Expanded Media, em Belgrado, Sérvia, com The Illustration of Art: Economy. Em 1977, viaja para o Nepal e pesquisa técnicas de produção de papel, que resulta em série de trabalhos de grande formato e na publicação do álbum Trama. Em 1978, realiza ambientes com técnicas cinematográficas no Palazzo Reale de Milão e na mostra Arte & Cinema, de Veneza.
De volta ao Brasil, coordena o Núcleo de Arte Contemporânea da Universidade Federal da Paraíba (NAC/UFPB), ao lado do crítico Paulo Sergio Duarte (1946). Retorna a Milão em 1981 e aproxima-se do movimento transvanguardia. Em 1988, é bolsista do Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD), em Berlim. Em 1992, torna-se professor da International Summer Academy of Fine Arts, em Salzburgo, Áustria. No ano seguinte, leciona na State Academy of Fine Arts, em Karlsruhe, Alemanha, e, em 1997, no programa de pós-graduação dos Ateliers Arnhem, na Holanda. Em 2010, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue intensa produção.
Antonio Dias condensa sua pesquisa estética nos anos 1960, quando explora novos meios e suportes para atingir a corporeidade anunciada em seus primeiros trabalhos. Conjugando abstração construtiva e figuração, seus quadros negam a homogeneidade por meio de texturas, relevos e rupturas.
Elementos díspares ganham vida própria em Nota sobre a Morte Imprevista (1965), obra na qual apresenta uma nova abordagem do problema do objeto, não subtraindo questões sociais em meio às formais. Um “antiquadro”, passagem decisiva para o conceito de nova objetividade, segundo Hélio Oiticica (1937-1980)2. A obra assume o formato de losango, e seus elementos constituintes são excreções que transbordam sobre o ambiente, com formas distantes da rigidez habitual de um quadro. Como em um jogo, a obra provoca o observador a remontá-la. Ao mesmo tempo, nega uma participação completa, física ou semântica: as imagens oferecem um significado enigmático, e os objetos, que poderiam oferecer-se ao toque, são fonte de desconforto. O tom expressionista é negado pela ausência da pincelada e pela uniformização esquemática das cores. O espaço fragmentado remete às histórias em quadrinhos, sem, no entanto, almejar completude narrativa.
Os títulos dos trabalhos desse período sugerem uma falsa totalidade, frustrada pela dilaceração de objetos e imagens. Os objetos são tratados como superfícies simplificadas pela cor, e as imagens explodem da tela e ganham extensão física por meio de apêndices. O desejo explícito de romper com o cânone tradicional, experiência também perseguida pelos artistas neoconcretas, traz para o debate estético a turbulência social dos anos 1960.
O artista incorpora a escrita como elemento gráfico e semântico, intensificando as relações entre artes visuais, poesia e cinema, como na série The Illustration of Art (1971-1974). O título transita entre o pejorativo “ilustrativo” e o erudito “ilustrado”, ambos os sentidos em chave irônica. Nessa série, imagens e sequências interrompidas de formas modulares são ordenadas pela lógica sugerida pelo artista, propondo campos de jogos e camuflagens que se fingem imagens espaciais. The Illustration of Art / One & Three / Stretchers / Models (1971) exemplifica a operação formal e lógica que permeia os trabalhos da série, estimulando o observador à ação, ainda que esta seja apenas o gesto virtual de completar as possibilidades de acomodação das formas.
Ao mesmo tempo que se insere no núcleo do “programa ambiental” da arte brasileira (1960-1970), que se desdobra na noção de participação do espectador, Dias questiona constantemente o próprio conceito de participação. Faça Você Mesmo: Território Liberdade (1968), um ambiente apenas estruturalmente esboçado, sugere um espaço para a ação. Trata-se de uma construção gráfica ambiental, com sinais de demarcação territorial feitos com fitas adesivas sobre o chão. Desdobrando a proposta, o artista insere três pedras de bronze com a inscrição “To the police”. A completude da obra só é atingida por meio da ação do espectador. É o primeiro dos diagramas do álbum Project Book – Ten Plans for Open Projects, pensados como projetos de espaço a ser apropriado pelo público. O álbum, editado em 1977 sob o título de Trama, é composto por 11 xilogravuras impressas em papel nepalês, produzido por artesãos nepaleses. A exibição na parede forma um grande retângulo incompleto e propõe a participação intelectiva do espectador, revelando a lacuna física e semântica que, segundo Dias, é inerente a toda comunicação.
1. Movimento artístico originado na segunda metade dos anos 1960, na Itália. Caracteriza-se pela produção de obras com materiais não convencionais, como areia, jornais, cordas e trapos. A intenção é “pauperizar” a obra de arte, reduzindo seus recursos para eliminar barreiras entre arte e quotidiano.
2. OITICICA, Hélio. O esquema geral da nova objetividade. In: FERREIRA, Glória (Org.). Escritos de artistas: anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 154-168.
Reprodução Fotográfica Iara Venanzi/ Itaú Cultural
Reprodução Fotográfica Autoria Desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl
Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica Paulo Scheuenstuhl
Reprodução Fotográfica Vicente de Mello/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Reprodução fotográfica autoria desconhecida
Antonio Dias - Enciclopédia Itaú Cultural
“A pintura para mim não é um passatempo, mas um problemaço que procuro resolver botando aquilo para fora”, explica o artista multimídia paraibano Antonio Dias, cujos trabalhos estão expostos em diversos museus e galerias nacionais e internacionais desde a década de 1960. Cadernos são seus primeiros suportes, como rascunhos em que inicia suas obras, conferindo-lhes toda a carga emocional. Depois, ele filtra o que deseja imprimir em telas e outras superfícies, com recortes que representam um diálogo entre as suas inspirações e o olhar de quem as vê. O artista não se fixa em um único estilo, procurando sempre desafiar-se para que não se torne repetitivo. Os materiais utilizados são diversos, podem ter relevos, serem bi ou tridimensionais. O importante, para Dias, são os conceitos discutidos em suas criações, que podem ter teor político e/ou social.
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Galeria Sobradinho
Galeria Relevo
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Galerie Florence Houston - Brown (Paris, França)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Museu de Arte da Pampulha (MAP)
Galeria Vaclaca Spaly (Praga, República Tcheca)
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
Galeria da Escola Guignard
Kiko Gallery (Houston, Estados Unidos)
Parque Ferial Juan Carlos I
Maison de L'Amérique Latine (Paris, França)
Parque Ferial Juan Carlos I
Fundação Bienal de São Paulo
Fundação Bienal de São Paulo
Shopping JK Iguatemi
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