Título da obra: O Uraguay


Reprodução Fotográfica Horst Merkel
O Uraguay
,
1769
,
Basílio da Gama
Reprodução Fotográfica Horst Merkel
José Basílio da Gama (Tiradentes, Minas Gerais, 1741 - Lisboa, Portugal, 1795). Poeta. Órfão de pai na adolescência, segue para o Rio de Janeiro, onde estuda no Colégio dos Jesuítas, congregação religiosa com a qual manterá relação ao longo de sua vida. Em 1759 inicia-se uma campanha oficial por parte de alguns estados europeus e suas respectivas colônias contra os jesuítas, e o colégio no qual Basílio estuda é fechado. Fiel à congregação, o jovem segue para Roma, onde, entre 1760 e 1766, é admitido na célebre Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Termindo Sipilio. Em 1768 é detido em Portugal, acusado de simpatia pelos jesuítas. Após quase ser exilado para Angola, Basílio recua em seu engajamento pró-jesuíta e escreve, em 1769, o "Epitalâmio às núpcias da Senhora Dona Maria Amália", filha do Marquês de Pombal (1699- 1782), protetor do poeta e um dos principais responsáveis pela política contra os jesuítas em território português e em suas colônias. Ao Marquês de Pombal é dedicada sua obra poética central, O Uraguai, de 1769.
Em O Uraguai (1769), obra central da poética de Basílio da Gama, é abordada a factual expedição de portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas no sul do Brasil. A intenção central do autor é louvar a política do Marquês de Pombal e criticar os jesuítas. Embora possua traços épicos, predomina em O Uraguai o gênero lírico-narrativo: segundo o crítico Alfredo Bosi (1936), a contemporaneidade dos eventos contados no poema retira a aura de mito que ronda a epopéia tradicional. Além dos espanhóis, portugueses e jesuítas, os indígenas também são personagens do poema, uma vez que estavam envolvidos diretamente no conflito entre colonizadores e jesuítas. O tema do índio e a descrição minuciosa da natureza brasileira dividem espaço, no poema, com a questão da expedição; assim, posteriormente, Basílio e seu Uraguai seriam apontados por muitos escritores românticos como fonte de inspiração.
No entanto, é preciso ressaltar que o interesse demonstrado por Basílio pela cultura indígena neste poema é superficial, configurando a imagem do índio com tintas de exotismo. Ainda assim, segundo o crítico Antonio Candido (1918), por vezes o poeta deixa de cantar os feitos heróicos dos portugueses e espanhóis para tratar do choque entre a cultura indígena e a européia, entre a vida natural e a ordenação racional da Europa.
Entre as especificidades da composição do poema estão as notas de rodapé elaboradas pelo próprio autor: nelas concentram-se o conteúdo mais explicitamente político, como as louvações a Pombal e o combate aos jesuítas; assim, o poema propriamente dito ficaria livre "dum máximo de não poesia"¹. Tal deslocamento de parte do conteúdo político para as notas de rodapé indicam, mais uma vez, a tendência mais lírica que épica d'O Uraguai.
1 A expressão é de Antonio Candido em ormação da Literatura Brasileira
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