Artigo sobre Encontros de Interrogação (1. : 2004 : São Paulo, SP)

José Horácio de Almeida do Nascimento Costa (São Paulo, São Paulo, 1954). Poeta, ensaísta, tradutor e professor. Forma-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAUUSP) em 1978. Estreia na literatura, em 1981, com o livro 28 Poemas 6 Contos, em edição de autor. Defende mestrado em artes pela New York University (Universidade de Nova York), em 1986. Entre 1987 e 2001, ensina na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). Organiza, em 1992, o encontro A Palavra Poética na América Latina: Avaliação de uma Geração, resultando o diálogo com os poetas mais notáveis de sua geração, que começam a publicar nos anos 1980. Doutora-se em filosofia pela Yale University [Universidade de Yale] em 1994, com a tese José Saramago – O Período Formativo.
Em 2001, após 20 anos no exterior, retorna ao Brasil e passa a lecionar na Universidade de São Paulo (USP). Edita em 2004 a coletânea de poemas Fracta, um destaque no conjunto de sua produção. Em continuidade ao diálogo entre poetas, organiza em 2007 o encontro de poesia ibero-americana Em Mar Aberto, dedicado à integração entre as poéticas de língua portuguesa e espanhola. Como presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (Abeh), entre 2006 e 2008, organiza o livro Retratos do Brasil Homossexual – Fronteiras, Subjetividades e Desejos (2010), esforço de sua militância na luta pelos direitos do homossexual.
Entre suas contribuições como tradutor, destacam-se versões de poetas modernos relevantes como os mexicanos José Gorostiza (1901 - 1973), Octavio Paz (1914 - 1998) e a norte-americana Elizabeth Bishop (1911 - 1979).
Análise
A poesia de Horácio Costa contempla interesses diversos, sendo essa variedade um dos pontos importantes de sua obra. A longa estada fora do Brasil – de 1981 até 2001, entre Estados Unidos, Espanha, Portugal e México – alimenta a interação com imaginários e contextos múltiplos, instaurando uma apreensão nômade em sua poesia. Tais aspectos podem ser observados nos versos do poema Vinte Anos Depois: “[...] a então chamada ponte do futuro já não serve mais / agora quando estás nela também estás aqui / tinhas o cabelo solto tinhas a rédea solta / soltas tinhas as palavras / há vinte anos / entre aqui e ali”.1
Em sua poesia há também o interesse pela variedade de formas: em O Menino e o Travesseiro (2003), por exemplo, explora o poema longo, de cunho narrativo, que rememora a infância. Em O Livro dos Fracta (1990), emprega uma forma mais concisa e fragmentária, três versos para cada poema, imposição construtiva para todo o livro, criando uma “forma fixa” pessoal: “Qual a área que esconde a liberdade de uma linha? / relacionam-se universos do plano ao monte, arfam pulsares pelos interstícios / Se te aprouver, inscreve tua fractalidade na pele do papel”.2
Os poemas mais recentes expressam o amor homossexual, temática relevante em sua militância, de acordo com a declaração para a revista Zunái: “(...) como é que os poetas homossexuais mexicanos desde os anos vinte fizeram da afirmação da sua condição sexual uma de suas bandeiras, e que aqui nunca houve nada disso, até bem recentemente?”3, questão abordada em Homoeróticas (2007): “[...] sentia como o tesão doía / porque eram os apertados traseiros dos primos / e não os das lollobrígidas em turno [...]”,4 poemas dedicados à formação de uma memória homossexual na poesia brasileira, daí decorre seu viés civil, político.
1. COSTA, Horácio (Org.). Fracta. 1. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2004. p.16.
2. COSTA, Horácio. O livro dos Fracta. 1. ed. São Paulo: Editora Iluminuras, 1990. p.35.
3. REVISTA ZUNÁI. EntreVista: Et mutabile. Uma conversa com Horácio Costa. Disponível em: http://www.revistazunai.com/entrevistas/horacio_costa.htm. Acesso em: 5 set. 2014.
4. COSTA, Horácio. Homoeróticas. 1. ed. São Paulo: Lumme Editor, 2007. p.51.
Itaú Cultural
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