Título da obra: Teatro São José, Praça João Mendes


Sede da Chácara Mauá
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ca. 1873
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Militão Augusto de Azevedo
Militão Augusto de Azevedo (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1837 – São Paulo, São Paulo, 1905). Fotógrafo e ator. Militão de Azevedo tem um extenso e variado trabalho de documentação fotográfica da cidade de São Paulo de sua época.
Até a década de 1860, segue carreira como ator de teatro. Atua em grupos como a Companhia Joaquim Heliodoro e a Companhia Dramática Nacional, com a qual viaja a São Paulo em 1862, cidade onde reside e trabalha durante a maior parte de sua vida.
Inicia-se na fotografia trabalhando no estúdio Photographia Academica de Carneiro & Gaspar e realiza, até 1865, a primeira grande documentação visual de São Paulo, anterior ao surto modernizador, na etapa final do Império. Cobre praticamente toda a extensão urbana da cidade – do centro aos limites do município –, que na época ainda guarda traços do passado colonial, com cerca de 45 ruas e 25 mil habitantes.
Com engenho, as limitações técnicas se tornam parte da composição das imagens no trabalho do fotógrafo, cujo início de atuação coincide com a introdução no Brasil da produção com negativo em vidro de colódio úmido e impressão do positivo em papel albuminado. Pelo aspecto manual do revestimento da lâmina de vidro com o fluído, ocorrem falhas de encobrimento nas extremidades das fotografias. Esse entrave é transformado em solução estética por Militão, que corta os cantos das imagens mesmo quando o procedimento deixa de ser necessário.
Diante do sucesso limitado de vendas, o fotógrafo dedica-se ao ofício de retratista, produzindo em torno de 12.500 retratos ao longo da carreira, o que corresponde a cerca de um terço da população paulistana na época. A intensa produção se beneficia do contexto dos anos 1870, com a “febre fotográfica”, atribuição do caricaturista Angelo Agostini (1843-1910) à atração popular pela possibilidade de registro visual da própria imagem. Militão compõe vasto painel dos tipos sociais – desde escravizados, estudantes e funcionários públicos, até políticos, intelectuais e figuras públicas, como o abolicionista Joaquim Nabuco (1849-1910) e o imperador Pedro II (1825-1891) – com anotações rigorosas de informações sobre os retratados nos livros de controle do estúdio.
Nesse período, realiza as séries Álbum de Santos (1864-1865) e Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1868). Segundo o pesquisador Rubens Fernandes Junior (1949), a fotografia de Militão isenta-se de “arroubos estéticos”, mantendo a simplicidade da composição. Na produção paisagística, preponderam os planos horizontais de ruas, ladeiras e largos, junto a tomadas de entroncamentos de vias emolduradas por edifícios e, com menos frequência, de chácaras. Nesses dois álbuns e nos registros de São Paulo, são frequentes vistas gerais e conjuntos de tomadas subsequentes que compõem panoramas com algumas movimentações de 360 graus.
Em 1875, torna-se proprietário exclusivo do estúdio Carneiro & Gaspar, rebatizando-o como Photographia Americana. Depois de temporada na Europa para estudos de técnica fotográfica, vende o estúdio em 1886. No ano seguinte, lança sua obra principal, o Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo: 1862-1887, conjunto de 60 fotografias, formando 18 pares comparativos. As cidades de São Paulo “antiga” e “moderna”, então, justapõem-se, materializando a ideia de progresso, colocada de modo autoral, como ressalta a antropóloga Íris Morais de Araújo (1980).
Nos pares, o arco histórico percorrido toma forma visual, com o contraste entre a pacata e provinciana cidade e a “metrópole do café”, que já apresenta traços de progresso em sua fisionomia e costumes, de acordo com o fotógrafo Boris Kossoy (1941). Para Fernandes Junior, a repetição de tomadas manifesta o esforço de documentação detalhada, expresso na captação em plano e contraplano. Também há cuidado na apreensão da circulação humana, aspecto particular de Militão.
Anuncia o fim da atividade como fotógrafo em 1888. Além das fotografias documentais, Militão registra questões técnicas e atividades da Photographia Americana no manuscrito intitulado Livro Copiador de Cartas, composto também de missivas enviadas pelo fotógrafo entre 1883 e 1902.
Em 1946, sua obra começa a ser reconhecida quando o fotógrafo Gilberto Ferrez (1908-2000) destaca Militão Augusto de Azevedo em ensaio pioneiro de balanço dos fotógrafos mais atuantes do país no século XIX.
Na década de 1970, passa a ocupar posição privilegiada na história da fotografia brasileira, e recebe atenção crítica decisiva da professora e escritora Ilka Brunhilde Laurito (1925-2012), que publica o artigo O Século XIX na Fotografia de Militão (1972). Em 1973, imagens do Álbum Comparativo integram uma das primeiras exposições dedicadas à história da fotografia brasileira, realizada no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Militão Augusto de Azevedo registra as mudanças exercidas pela modernização na cidade de São Paulo e documenta criteriosamente os habitantes e as paisagens do Brasil do século XIX.
Reprodução Fotográfica Romulo Fialdini/Itaú Cultural
Museu da Imagem e do Som (São Paulo, SP)
The Center for Inter-American Relations (Nova York, Estados Unidos)
Casa do Bispo (Rio de Janeiro, RJ)
Museu da Inconfidência
Maxwell Museum of Anthropology (Albuquerque, Estados Unidos)
FotoFest (Houston, Estados Unidos)
Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (SP)
Museu Paulista (MP)
Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_)
Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)
Museu Paulista (MP)
Arquivo do Estado (São Paulo, SP)
Fundação Bienal de São Paulo
SZMRECSÁNYI, Tamás (org.). História econômica da cidade de São Paulo. São Paulo: Globo, 2004.
TOLEDO, Benedito de Lima. A imperial cidade de São Paulo vista por Militão. In: AZEVEDO, Militão Augusto de. Álbum comparativo da cidade de São Paulo (1862-1887). São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 1981.
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