Título da obra: Ressaca na Avenida Beira-Mar


Reprodução fotográfica César Barreto/Itaú Cultural
Trecho na Rua dos Ourives, entre a Rua da Alfândega e a do Hospício
,
1906
,
Augusto Malta
Biografia
Augusto Cesar Malta de Campos (Mata Grande1 AL 1864 - Rio de Janeiro RJ 1957). Fotógrafo. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1888, integrando a Guarda Municipal entre 1889 e 1893. Após tentar a sorte, sem muito sucesso, como guarda-livros, comerciante de secos e molhados e de tecidos finos, encontra na fotografia a vocação que o tornaria célebre como o mais expressivo cronista visual da vida e da paisagem carioca na primeira metade do século XX. Primeiro fotógrafo oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, contratado em 1903 para documentar as radicais reformas urbanísticas promovidas pelo prefeito Pereira Passos, permanece nessa função até sua aposentadoria, em 1936. Nesse período, produz mais de 30 mil fotografias. Além de documentar as transformações por que passou a cidade, fotografou a Exposição Nacional de 1908; a Exposição do Centenário da Independência e o desmonte do Morro do Castelo, ambos em 1922; registrou diversos aspectos da vida carioca, como o carnaval de rua, a prostituição da zona portuária, e ainda retratos de artistas, políticos e intelectuais. Após sua morte sua obra é apresentada em diversos eventos no Brasil e no exterior. Seu trabalho também se constitui em referência para pesquisas, teses e estudos, originando uma série de publicações, entre os quais Malta: O Fotógrafo do Rio Antigo, lançado em 1983, pela Rio Gráfica, Um Fotógrafo, Uma Cidade: Augusto Malta, de Fernando Ferreira Campos, pela Maison Graphique, Rio de Janeiro, 1987 e Augusto Malta: Catálogo da Série Negativo em Vidro, assinado por seu filho Aristógiton Malta, pela Coleção Biblioteca Carioca da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, em 1995.
Comentário Crítico
Augusto Malta é um dos primeiros fotógrafos da paisagem urbana no Brasil. Nascido em Alagoas, muda-se para o Rio de Janeiro na segunda metade da década de 1880. No entanto, só começa a fotografar, ao que tudo indica, em 1900.2 Três anos mais tarde é apresentado ao então prefeito, Pereira Passos, que o nomeia "Fotógrafo oficial da diretoria geral de obras e viação da Prefeitura do Distrito Federal". Na função, é encarregado, principalmente, de preparar a documentação visual dos logradouros que sofreriam alteração na grande reforma urbanística conduzida pela prefeitura. Logo depois, registra o andamento das obras. É responsável pela imagem oficial da modernização fluminense. Mas também retrata eventos oficiais e monumentos da cidade. Segundo o historiador Antonio Ribeiro de Oliveira Junior, o fotógrafo "acompanha passo a passo e foto a foto a transformação da cidade".3 Além desse processo, capta em imagens o cotidiano da cidade e de seus moradores. Fotografa também acontecimentos extraordinários, como uma ressaca na avenida Atlântica, em 1903, e na praia do Flamengo, em 1906, a queima dos quiosques, no mesmo ano, e a Revolta da Chibata, em 1910.
Ainda em 1903, inaugura seu estúdio fotográfico, onde atende a clientes particulares. Faz, sobretudo, o que é chamado de "reportagem social e comercial". Registra festas e acontecimentos importantes das famílias abastadas do Rio de Janeiro e faz retratos de seus membros. Um ano depois, torna-se sócio-fundador da Sociedade Cartophila Internacional Emanuel Hermann, e cede imagens para cartões-postais. A partir de 1909, edita os próprios cartões, seleciona vistas da paisagem urbana e natural do Rio de Janeiro. Essas cenas da cidade, menos compromissadas com os interesses do Estado, também são produzidas para periódicos como O Malho, Careta, Kosmos, Correio da Manhã e Jornal do Brasil.
Em 1908 acompanha um grupo de centenas de marinheiros norte-americanos que desembarca no Rio de Janeiro e registra sua visita às regiões de meretrício. É uma de suas grandes reportagens fotográficas. Segundo o estudioso Oliveira Junior, essas cenas antecipam "precocemente a especificidade da fotografia de imprensa ao procurar imagens do cotidiano, centrar o interesse no ser humano, acompanhar bem de perto o desenrolar dos acontecimentos, produzir fotografias seqüenciais, induzir o leitor a vislumbrar a realidade que somente a imagem pode representar".4
Entre 1913 e 1919, registra cenas da zona rural do Rio de Janeiro. Fotografa a pavimentação da Estrada Real de Santa Cruz e faz imagens das escolas da região. A partir de 1932, é encarregado pela prefeitura da organização do arquivo com as imagens de todo o processo de urbanização e de cerimônias realizadas na cidade. É fotógrafo oficial até 1936, quando se aposenta. Depois, continua atuando nesse ramo.
Notas
1 Em 1902, a localidade Mata Grande, passa a chamar-se Paulo Afonso, época que conquista sua autonomia. Entretanto, em 1929, volta a adotar a denominação original. Isso explica o motivo de muitas fontes apontarem Paulo Afonso como local de nascimento do fotógrafo.
2 Cf. LOUREIRO, Elizabeth Cristina Marques de (coord.). Augusto Malta, Aristógiton Malta: catálogo da série negativo em vidro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994. (Biblioteca carioca, 29. Instrumentos de pesquisa). p. 15.
3 OLIVEIRA JUNIOR, Antonio Ribeiro de. O visível e o invisível: um fotógrafo e o Rio de Janeiro no início do século XX. In: SAMAIN, Etienne (org.). O Fotográfico. São Paulo: Hucitec, 1998. (Linguagem e Cultura, 29). p. 80.
4 Idem, p. 83.
Reprodução fotográfica César Barreto/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica César Barreto/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica César Barreto/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica César Barreto/Itaú Cultural
Reprodução fotográfica César Barreto/Itaú Cultural
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