Título da obra: Antônio Abujamra em cena de O Contrabaixo


Registro fotográfico Djalma Limongi Batista
Antônio Abujamra em cena de O Contrabaixo
,
1987
,
Djalma Limongi Batista
Registro fotográfico Djalma Limongi Batista
Antônio Abujamra (Ourinhos, São Paulo, 1932 – São Paulo, São Paulo, 2015). Diretor e ator. Participa da revolução cênica dos anos 1960 e 1970, caracterizando seu trabalho pela ousadia, inventividade e espírito provocativo. Nos anos 1980 e 1990, desenvolve espetáculos em que crítica e lúdico se fundem num ceticismo bem-humorado, eixo de sua personalidade.
Forma-se em filosofia e jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) em 1957. Inicia-se como crítico teatral e faz suas primeiras incursões como ator e diretor no Teatro Universitário, entre 1955 e 1958, em montagens como: O Marinheiro, do poeta e dramaturgo português Fernando Pessoa (1888-1935), e À Margem da Vida e O Caso das Petúnias, do dramaturgo americano Tennessee Williams (1911-1983).
Viaja à Europa em 1959 como bolsista e estuda língua e literatura espanholas em Madri. Faz estágio em Villeurbanne, na França, com o diretor francês Roger Planchon (1931-2009), acompanhando as montagens de Henrique IV, do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), e Almas Mortas, do escritor ucraniano Nicolas Gogol (1809-1852). Estagia também com o diretor Jean Villar em A Resistível Ascensão de Arturu Ui, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), no Théâtre National Populaire [Teatro Nacional do Povo], em Paris.
Retorna ao Brasil em 1961 e estreia em São Paulo no Teatro Cacilda Becker (TCB), onde dirige Raízes, do dramaturgo britânico Arnold Wesker (1932-2016), e no Teatro Oficina, com José, do Parto à Sepultura, de Augusto Boal (1931-2009).
Em 1963, associa-se aos diretores de teatro Antônio Ghigonetto (1930-2010) e Emílio Di Biasi (1939-2020) e funda o Grupo Decisão, com a intenção de disseminar o teatro político com base na técnica brechtiana. A primeira produção é Sorocaba, Senhor, uma adaptação de Fuenteovejuna, do dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562-1635). Com Terror e Miséria no III Reich e Os Fuzis da Sra. Carrar, ambos de Brecht, o grupo leva aos bairros periféricos de São Paulo um repertório voltado para a mobilização política e a discussão da realidade nacional.
O grupo monta seu primeiro sucesso, O Inoportuno (1964), do dramaturgo britânico Harold Pinter (1930-2008), e transfere-se para o Rio de Janeiro, onde a peça chama a atenção e abre portas para seus realizadores. Electra (1965), de Sófocles (497-406 a.C.), aumenta o prestígio do grupo e a encenação é apreciada pela crítica e pelo público.
Segundo Yan Michalski, as encenações de Abujamra na época são subversivas e apaixonadas, e o diretor é “inquieto e eclético, capaz de criar para cada uma dessas peças uma concepção cênica polêmica, mas sempre marcada por uma linguagem de uma radical modernidade, influenciada pela experiência européia do diretor”.1
Nos anos seguintes, dedica-se ao Teatro Livre, da atriz Nicette Bruno (1933-2020) e do ator Paulo Goulart (1933-2014), realizando montagens como Os Últimos (1968), do dramaturgo russo Máximo Gorki (1868-1936), ou As Criadas (1968), do francês Jean Genet (1910-1986), e produções de âmbito comercial, algumas com grande êxito de bilheteria.
Em 1975, alia-se ao teatro de resistência e dirige o monólogo Muro de Arrimo, escrito por Carlos Queiroz Telles (1936-1993), paradoxo entre as duras condições de vida de um operário da construção civil e suas ilusórias expectativas de um futuro brilhante. No mesmo ano, recebe o Prêmio Molière, pela direção de Roda Cor de Roda, da dramaturga Leilah Assumpção (1943).
Na primeira metade dos anos 1980, Abujamra se engaja no projeto de recuperar o Teatro Brasileiro de Comédia [TBC]. Inaugura novas salas e implanta um movimento que traz novos autores e diretores. Entre os espetáculos mais significativos no TBC estão: Os Órfãos de Jânio (1981), de autoria de Millôr Fernandes (1923-2012); Hamletto (1981), do italiano Giovanni Testori (1923-1993) – peça que dirige mais duas vezes: no próprio TBC (1984), e em Nova York, no Theatre for the New City (1986).
Um dos maiores sucessos de sua carreira, Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico (1984), do dramaturgo italiano Dario Fo (1926-2016), traz um solo virtuosístico que é aplaudido em vários festivais fora do Brasil.
Aos 55 anos, Abujamra inicia a carreira de ator. Em dois anos, atua em duas telenovelas e três peças e é premiado pelo desempenho no monólogo O Contrabaixo (1987), do escritor alemão Patrick Suskind (1949).
Em 1991, recebe o Prêmio Molière pela direção de Um Certo Hamlet, espetáculo de estreia da companhia Os Fodidos Privilegiados, fundada por Abujamra para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro. Segundo Macksen Luiz, na peça, o deboche vulgar de Abujamra torna-se algo paradoxal, suscitando reações adversas na platéia pelo exagero, chocando e provocando. O espetáculo é profano, perverso e engraçado. “Popularizado, subvertido, pulverizado, Hamlet emerge numa leitura pessoal, que provoca repulsa ou adesão”.2
Com Os Fodidos Privilegiados, ganha o Prêmio Shell de melhor direção de 1998, com uma adaptação do romance O Casamento, do escritor Nelson Rodrigues (1912-1980).
Abujamra trabalha também como diretor e ator de televisão, em novelas, especiais, programas educativos e teleteatros. A partir de 2000, apresenta o programa de entrevistas Provocações, na TV Cultura.
Antônio Abujamra tem vasta produção no teatro e na TV. Em suas peças, aproveita a experiência de seus antecessores, valorizando com equilíbrio a visualidade e a palavra, com certo sarcasmo, deboche e bom humor.
1. MICHALSKI, Yan. Antônio Abujamra. In: ______. PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.
2. LUIZ, Macksen. Hamlet para Brasileiro Ver. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 jun. 1991
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Instituto de Belas Artes
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