Artigo sobre João Donato (2003 : São Paulo, SP)

João Donato de Oliveira Neto (Rio Branco, Acre, 17 de agosto de 1934). Compositor, pianista, acordeonista, arranjador, cantor. Aprende a tocar acordeom na infância. Em 1945, muda-se para o Rio de Janeiro e toca em festas de colégio. Em uma delas, conhece o conjunto vocal Namorados da Lua e começa a amizade com Nanai, Chicão, Miltinho e o cantor Lúcio Alves (1927-1993).
Em 1949, participa de jam-sessions na casa do cantor Dick Farney (1921-1987) e no Sinatra-Farney Fan Club. Inicia carreira profissional em 1949, no grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional, e no conjunto do violinista Fafá Lemos (1921-2004). Toca em casas noturnas, como Plaza, Drink, Sacha's e Au Bon Gourmet, entre outras. Em 1951, começa a estudar piano.
Muda-se para São Paulo, em 1956, e toca piano no grupo Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar. Grava seu primeiro LP, Chá Dançante (1956), com produção do compositor Tom Jobim (1927-1994) para a gravadora Odeon. Em 1958, volta para o Rio de Janeiro e dedica-se ao piano.
Em 1959, viaja para o México com o guitarrista Nanai e a cantora Elizeth Cardoso (1920-1990). Em seguida, vai para os Estados Unidos, onde reside durante três anos. Excursiona com João Gilberto (1931) pela Europa.
Em 1962, retorna ao Brasil e grava o LP Muito à Vontade (1963), com o contrabaixista Tião Neto (1931-2001) e o baterista Milton Banana (1935-1999). Em 1963, lança o LP A Bossa Muito Moderna de João Donato e Seu Trio.
Volta aos Estados Unidos, onde vive por mais dez anos. Nesse país, grava com o saxofonista norte-americano Bud Shank (1926-2009) e com a violonista brasileira Rosinha de Valença (1941-2004). Também trabalha com o contrabaixista norte-americano Ron Carter (1937) e com o brasileiro Eumir Deodato (1943). Atua com outros artistas como Astrud Gilberto (1940), Dorival Caymmi (1914-2008), e os norte-americanos Stan Kenton (1912-1979), Nelson Riddle (1921-1985), Herbie Mann (1930-2003) e Wes Montgomery (1923-1968).
Em 1972 volta ao Brasil e, no ano seguinte, grava o LP Quem é Quem. O disco apresenta músicas com letras cantadas pelo próprio compositor, até então intérprete de música instrumental.
Em 2008, lança o DVD Ao Vivo no Rio de Janeiro, registro do encontro musical com Bud Shank e participa do espetáculo Bossa Nova 50 Anos, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Em 2010, ganha o Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum de Jazz Latino com o CD Sambolero.
Tem três álbuns lançados nos anos 1990 e soma 15 discos de 2000 a 2010. Entre eles, duos com Emílio Santiago (1946-2013) e Wanda Sá (1944), Joyce Moreno (1948) e Paula Morelenbaum (1962). Em 2011, grava Os Bossa Nova, ao lado de Carlos Lyra (1939), Marcos Valle (1943) e Roberto Menescal (1937).
João Donato é um dos precursores da bossa nova, por sua atuação como pianista e compositor desde o início dos anos 1950. É moderno para a época, e seu piano já apresenta um toque diferente de tudo o que existe no momento.
Desenvolve carreira nos Estados Unidos a partir de 1959, tocando com as orquestras latinas de jazz em Los Angeles, a cujos mambos, merengues e rumbas acrescenta o conhecimento do samba. A influência da música cubana é evidente em “Bluchanga”, dos tempos em que Donato toca com os músicos norte-americanos Cal Tjader (1925-1982) e Tito Puente (1923-2000), o cubano Mongo Santamaría (1922-2003) e Johnny Martinez.
Enquanto nos Estados Unidos, sua canção “Minha Saudade” (1955), parceria com João Gilberto, permeia o repertório das primeiras apresentação e festivais de bossa nova, estilo musical de fins da década de 1950.
Suas composições são instrumentais, ganhando letra a posteriori. "As minhas primeiras letras surgiram a partir desses temas instrumentais já gravados, que eu pensava que não iam ter letra nunca. Bananeira era Villa Grazia, o nome da pousadinha onde a gente ficou em Lucca, na Itália, acompanhando o João Gilberto numa temporada (...). Noventa e nove por cento das minhas músicas instrumentais trocaram de nome, por causa da letra" diz João Donato. Outro exemplo é a música “Índio Perdido”, que muda para “Lugar Comum” após receber a letra de Gilberto Gil (1942).
É o caso da maioria das parcerias de Donato, como “A paz”, “Bananeira” e “Lugar Comum”, com Gilberto Gil; “A Rã” e “Surpresa”, com Caetano Veloso (1942); “Amazonas”, “Até quem Sabe” e “Flor de Maracujá” com o irmão Lysias Enio; “Simples Carinho” e “Verbos do Amor”, com Abel Silva (1945); “Nasci para Bailar”, com Paulo André Barata; “Cadê Você”, com Chico Buarque (1944); “Gaiolas Abertas” e “Daquele Amor nem Me Fale”, com Martinho da Vila (1938); e “Doralinda”, com Cazuza (1958-1990).
Como pianista, seu toque é inconfundível, marcado por suingue e bom gosto harmônico, influenciado pelo pianista Johnny Alf (1929-2010). Quando improvisa é simples, tocando poucas notas, e sofisticado, escolhendo com cuidado as notas que vai tocar.
Conhece Dick Farney quando ambos trabalham no hotel Copacabana Palace. Ouvem discos de jazz, aproximando-se das harmonias norte-americanas. Em uma de suas primeiras gravações como intérprete toca no acordeom “Invitation”, do polonês Bronislaw Kaper (1902-1983), música complicada de executar. Aprende por meio de discos, principalmente com os dos norte-americanos Stan Kenton, pianista e arranjador; Ernie Felice, acordeonista, e o compositor Bronislaw Kaper. Outra referência importante é Duílio Cosenza, componente do conjunto de Altamiro Carrilho (1924-2012). Duílio ensina-lhe acordes feitos no cavaquinho.
As composições de Donato possuem característica marcante: a primeira frase rítmica repete-se no decorrer da música, como em “A Rã”, “Até quem Sabe”, “Lugar Comum”, “Amazonas” e “Cadê Você”. Às vezes mantém a mesma melodia, alterando somente a harmonia, como é o caso da segunda parte da música “A Rã”. Não trabalha em cima da composição, mas dos arranjos.
Outro momento da carreira de João Donato é inspirado pela obra dos compositores franceses Claude Debussy (1862-1918) e Maurice Ravel (1875-1937), sobre os quais realiza o projeto Suíte Sinfônica Popular sobre Obras de Debussy e Ravel, com participação de orquestra. Adapta ao piano trechos específicos de algumas obras dos compositores eruditos e insere instrumentos populares do jazz e da bossa nova: bateria, percussão, contrabaixo, saxofone e flauta.
João Donato - Álbum Itaú Cultural - Série +70 (2013)
Itaú Cultural
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