Artigo sobre O Arranca-dentes

Universidade de São Paulo. Teatro (São Paulo, SP)
Cristiane Paoli Vieira (São Paulo, São Paulo, 1960). Diretora. Projeta-se na cena teatral paulista nos anos 1990, através de seus espetáculos recheados de técnicas e referências da commedia dell'arte. Na segunda metade da década, volta-se para a dança, e desenvolve linguagem própria, voltada para a pesquisa sobre a dramaturgia do intérprete em improvisação.
Forma-se em direito, profissão que exerce durante quatro anos, até dedicar-se ao teatro. Estreia na direção com Escorial, de Michel de Ghelderode, em 1986. Em 1989, estuda técnicas de jogo e máscaras na França e na Inglaterra com Philippe Gaulier. No mesmo ano, volta à criação com What I Am, apresentado também na Europa. Crack, espetáculo de bonecos do grupo A Cidade Muda, tem direção sua em 1990.
No ano seguinte, chama a atenção associando-se a Tiche Vianna, criando Uma Rapsódia de Personagens Extravagantes, com a Troupe de Atmosfera Nômade, um grande elenco no desempenho de máscaras dell'arte. Em 1992, cria Paranapiacaba, de Onde se Avista o Mar, com o grupo Abapuru de Santo André, São Paulo. Baseado em Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, dirige um solo em que o ator Rodrigo Matheus se utiliza de técnicas circenses pendurado em um grande guindaste, em 1993. No mesmo ano, volta a ocupar-se do universo dos clowns, com a criação de Quadri Matzi, poética realização com a Companhia Dramática, que merece prêmios. Em 1994, encena Circo Trilho, de Solange Dias, retoma o ambiente circense em O Rei de Copas, de Rubens Rewald, baseado no filme Este Mundo é dos Loucos, em que o amor é apresentado como forte oposição ao mundo da violência.
A Banda, espetáculo em que atores-músicos realizam uma sinfonia de ritmos e palavras, novamente com dramaturgia de Rubens Rewald, é criado em 1996. Ainda nesse ano, aprofundando a pesquisa sobre o universo clownesco, estreia Prelúdico para Clowns e Guitarra, espetáculo sem palavras estruturado em requintada linguagem visual. Ao longo desses trabalhos, desenvolve técnicas apuradas de improvisação, jogo e linguagem corporal para o ator, que são aprimoradas também em sala de aula através dos cursos que ministra.
A partir de 1996, volta-se também para a dança, associando-se ao Estúdio Nova Dança. Nessa nova fusão de linguagens cria algumas realizações significativas, como Um Passeio ao Jardim, em 1998, com a Companhia Nova Dança 4, fundada por ela e pela bailarina Tica Lemos, especializada em contato improvisação. Em 1999, monta para o Sesc Belenzinho, Poetas ao Pé d'Ouvido, usando poemas de Mário de Andrade (1983-1945) e Manuel Bandeira (1886-1968). No mesmo ano, experimenta uma ousada criação de Esperando Godot, de Samuel Beckett, com alunos da Escola de Arte Dramática (EAD).
Com a sua Companhia Nova Dança 4 encena Acordei Pensando em Bombas, intervenções performáticas improvisadas. Seguem-se Passeios, 1999; Uva Passa, 2000; Perspectiva, 2001, e Moby Dick, 2002, em que alia o trabalho da dança ao teatro na busca da presença e dramaturgia do intérprete, articulados no tempo presente em improvisação, material que consiste no próprio espetáculo. Recebe o Prêmio Shell, em 2004, pela direção de Aldeotas, de Gero Camilo (1970).
Numa matéria de lançamento de Perspectiva, Cristiane Paoli-Quito: Um Olhar em Movimento, retrospectiva efetivada de dezembro de 2000 a março de 2001 no Centro Cultural São Paulo (CCSP), o jornalista Ubiratan Brasil sintetiza o conjunto da obra: "Trata-se de um convite ao improviso - em mais de dez anos de trabalho. Cristiane especializou-se na refinada arte do movimento espontâneo. Construiu uma carreira marcada por inquietações artísticas que a levaram a transitar pelas fronteiras entre gêneros e estilos, transgredindo padrões estabelecidos, mas sem jamais perder a noção das leis que regem, identificam e definem estes gêneros e estilos. [...] caminhava, assim, para a valorização plena do ator - ao se apoiar somente no corpo do artista, dispensando as palavras e as representações dos objetos, fez com que o público abandonasse as referências externas e procurasse se concentrar apenas no que estava materialmente em cena".1
1 BRASIL, Ubiratan. O improviso no reencontro de artistas. O Estado de S. Paulo, São Paulo, jan. 2001. Caderno 2, p. 18.
Universidade de São Paulo. Teatro (São Paulo, SP)
Verónica Decide Morrer
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Itaú Cultural
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