Artigo sobre O Artista Brasileiro e a Iconografia de Massa

Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi)
A Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi) é inaugurada em 10 de julho de 1963, no Rio de Janeiro, apoiada pelo então governador Carlos Lacerda (1914-1977) e pelo secretário de educação Carlos Flexa Ribeiro, ex-diretor-executivo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Sua criação é inspirada em uma escola de design para o museu carioca, durante os anos 1950, baseada nos ideais de clareza formal e racionalidade de Max Bill (1908-1994), ex-aluno da Bauhaus, e em propostas do artista argentino Tomás Maldonado (1922), ambos ligados à Hochschule für Gestaltung Ulm (HfG) [Escola Superior da Forma], na Alemanha.
O arquiteto Maurício Roberto, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), é o primeiro diretor da escola. Em 1964, a encomenda de um novo plano urbano para a cidade do Rio de Janeiro ao escritório do arquiteto grego Constantino Doxiadis leva-o a pedir demissão da Esdi em protesto. Flávio de Aquino (1919-1987), arquiteto e crítico de arte, substitui Roberto em maio desse mesmo ano.
O processo seletivo da Esdi é inicialmente diferente das demais seleções para cursos universitários, contando com provas de língua estrangeira, português, teste vocacional e de nível cultural ou conhecimentos gerais, além de uma entrevista. Não há notas, mas graus de aproveitamento. Durante o primeiro semestre, os alunos que não obtivessem êxito seriam desligados do curso. Nos primeiros anos, o curso dividia-se em duas etapas: dois anos de curso básico e dois anos de especialização em Desenho Industrial e Comunicação Visual.
Esse modelo permaneceu vigente, com algumas alterações, de 1963 e 1971. E o objetivo era garantir um nível de excelência das primeiras turmas que implementariam a profissão no país. De 1963 a 1968, as decisões acerca da escola cabem ao Conselho Consultivo, formado pelo diretor, coordenadores de setor e representação dos alunos, diferentemente do que acontece com a maior parte dos cursos universitários naquele período.
A Esdi pretende-se um exemplo de educação experimental, porém a diversidade de métodos pedagógicos adotados pelos professores resulta em conflitos com a proposta da escola. As aulas teóricas são ministradas por docentes do Estado ou de outras faculdades enquanto as demais disciplinas ficam em geral sob responsabilidade de ex-alunos da escola de Ulm. Fundamentalmente, o objetivo da escola é fornecer aos novos desenhistas industriais brasileiros subsídios para a produção de um design adaptado as necessidades do país. Durante os anos iniciais, a proposta pedagógica de caráter experimental não obtém simpatia entre os alunos.
Aquino enfrenta diversos problemas tanto de ordem interna como no que diz respeito ao regime militar que governa o país, que interfere na Esdi como em qualquer outra instituição de ensino. Entretanto, é fiel aos pressupostos da Escola de Ulm, que norteiam originalmente a estruturação da escola. Segundo ele, a Esdi visa formar designers como coordenadores de projeto, em interação com outros profissionais da indústria. Aquino também propõe a reformulação do currículo visando, sobretudo, a adaptação da escola à realidade brasileira.
Segundo Pedro Luiz Pereira de Souza, a Esdi segue uma orientação técnico-produtiva, tendo por referência conceitos formais de Max Bill por intermédio da atuação de Karl Heinz Bergmiller (1928). Os ex-alunos de Ulm na Esdi, Bergmiller, Alexandre Wollner (1928-2018) e Edgar Decurtins - que deixa a escola em 1966, sendo substituído por Daisy Igel, ex-aluna de Josef Albers (1888-1976) e Buckminster Fuller (1895-1983) -, percebem os descompassos entre a educação brasileira de orientação mais humanista e a referência à escola alemã, de viés mais tecnológico. Além disso, é evidente a falta de integração entre as disciplinas. Entretanto, algumas iniciativas buscam sanar pelo menos parte desses problemas. Em 1965, Décio Pignatari (1927-2012), também professor da escola, propõe inovações estruturais e, em 1968, sua idéias confluiriam para uma estrutura que compartilhava a lógica de uma linha de montagem, pois para ele "o desenhista industrial no Brasil deve também ser produzido em série1".
Em 1967, a ex-diretora-executiva adjunta do MAM/RJ, Carmen Portinho, assume a diretoria. De então até 1968, os professores da Esdi apresentara uma nova proposta de currículo que seria a estrutura básica do modelo. A partir de então, novos professores, como o crítico Frederico Morais (1936) e a gravadora Renina Katz (1925), passam a integrar o quadro docente, que já contava também com Aloísio Magalhães (1927-1982), desde o início, e Zuenir Ventura (1931). Ao mesmo tempo, são incorporados ao conteúdo novos temas ligados à contemporaneidade do país. Segundo Souza, a Esdi logrou preservar uma postura que observava o "direito de expressão e crítica" tão cara à idealização da escola2.
A atuação da Esdi reverbera ainda em outras iniciativas ligadas ao design no país. Em 1974, Bergmiller e Goebel Weyne (1933-2012) formam o núcleo original do Instituto de Desenho Industrial do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - IDI ∕ MAM, um espaço para desenvolvimento do design preconizado pela escola. Além disso, esse instituto tem papel fundamental nas Bienais de Desenho Industrial que ocorreram entre 1968 e 1972 no MAM/RJ. Atualmente, a Esdi integra a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e o curso tem duração de cinco anos.
1. SOUZA, Pedro Luiz Pereira de. ESDI: biografia de uma idéia. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996, p.119.
2. Idem, p.148.
Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi)
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