Artigo sobre Castro Alves Pede Passagem

Data/Local
1971/1984 - São Paulo SP
Histórico
Companhia com características de grupo teatral, formada pelo casal Martha Overbeck e Othon Bastos na década de 1970, típica representante do teatro de resistência e empenhada na representação de temas nacionais de interesse político.
Os atores Othon Bastos e Martha Overbeck são originários da Bahia e, nos anos 1960, trabalham com o Teatro Oficina. Em 1971, associam-se a Gianfrancesco Guarnieri para montar Castro Alves Pede Passagem, musical em que o autor paulista enfoca, por meio de um tratamento metalinguístico, a vida do poeta romântico. Guarnieri define sua obra, ambientada num programa de TV, como "teatro de ocasião".
A montagem seguinte, Um Grito Parado no Ar, do mesmo autor e com direção de Fernando Peixoto, marca o início das atividades da companhia, em 1973. Recursos de metalinguagem são utilizados para abordar as dificuldades de um grupo teatral que tenta estruturar um espetáculo, em explícita alusão à desencorajadora situação que a atividade atravessa no período, quando a Censura age soberana.
Em 1974, o conjunto encena Caminho de Volta, texto de Consuelo de Castro e direção de Fernando Peixoto. O papel e a função da propaganda manifestam-se nos conflitos entre as personagens, empregados numa agência de publicidade, evidenciando-se também o dos bastidores da sociedade de consumo. A realização recebe vários prêmios, consolidando o prestígio da companhia.
Novamente com texto de Gianfrancesco Guarnieri e direção de Fernando Peixoto, em 1976, sobe ao palco Ponto de Partida. Texto que alude a problemas políticos, recorrendo a uma linguagem metafórica: numa época incerta e num local sem nome, um poeta aparece enforcado, motivando conjecturas dispares sobre o ocorrido. A morte do jornalista Wladimir Herzog, assassinado no ano anterior em dependências do 2º Exército, aparece de modo bastante evidente como ponto de partida do texto.
Um olhar sobre a difícil sobrevivência dos exilados políticos, em contínuas mudanças de país e de regime, surge em 1978, com a encenação de Paulo José para Murro em Ponta de Faca, texto de Augusto Boal que ganha ampla repercussão, no horizonte propiciado pelos questionamentos, em todo o Brasil, da continuidade do regime militar.
Em 1980, a companhia, em associação com o Teatro Vivo, de Renato Borghi, decide encenar Calabar, o Elogio da Traição, texto de Chico Buarque (1944)e Ruy Guerra, proibido desde 1973. O espetáculo de Fernando Peixoto carece, todavia, de recursos para realizar todo o aparato exigido pela proposta dramática e a montagem fica aquém das expectativas.
Ao longo de uma década a companhia enfrenta com decisão e empenho a missão de manter vivo um teatro com preocupações culturais e políticas, multiplicando esforços para superar dificuldades de todo tipo. Talvez desejando escapar ao âmbito do teatro abertamente político, o casal de atores-produtores opta por produzir, em 1984, um texto cujo assunto volta-se para a própria arte, a história de uma musicista que sofre de esclerose, em Dueto Para Um Só, de Tom Kempinski, com a encenação de Antônio Mercado.
Essa montagem se torna o canto de cisne da companhia, num período em que o público começa a se desinteressar dos temas ligados ao período do regime militar. Com a abertura política, a Othon Bastos Produções Artísticas perde seu papel como grupo de resistência e desaparece.
Casa da Cultura Francesa
Teatro de Arte Israelita Brasileiro
Theatro São Pedro
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