
Salão Revolucionário

Histórico
É como Salão Revolucionário que fica conhecida a 38ª Exposição Geral de Belas Artes, de 1931, em razão de ter abrigado, pela primeira vez, artistas de perfil moderno e modernista. Realizado no curto período de Lucio Costa na direção da Escola Nacional de Belas Artes - Enba, de 1930 a 1931, o Salão Revolucionário sinaliza o esforço do arquiteto de modernizar o ensino de arte no país e de abrir as mostras oficiais, até então dominadas pelos artistas acadêmicos, à arte moderna. A própria composição da comissão organizadora do Salão, a partir de então, indica sua vocação renovadora: além de Lucio Costa, Manuel Bandeira (1886 - 1968), Anita Malfatti, Candido Portinari e Celso Antônio, todos ligados ao movimento moderno. Aproximar a Enba e suas mostras regulares das pesquisas contemporâneas é o objetivo central do novo diretor, que em relação aos salões é enfático:
"O Salão, por exemplo - que exprime sobejamente o nosso grau de cultura artística -, diz bem do que precisamos. De ano para ano, tem-se a impressão de que as telas são sempre as mesmas, as mesmas estátuas, os mesmos modelos, apenas a colocação ligeiramente varia. Apesar do abuso de cor (ter colorido gritante, julgam muitos, é ser moderno), sente-se uma absoluta falta de vida, tanto interior como exterior, uma impressão irremediável de raquitismo, de inanição (...). Tem-se a impressão que vivemos em qualquer ilha perdida no Pacífico, as nossas últimas criações correspondem ainda às primeiras tentativas do impressionismo".
Lucio Costa assume a direção da Enba com a intenção explícita de projetar a arte moderna no país. A contratação de novos professores, afinados com o ideário moderno - entre os quais, Alexander Buddeus, Gregori Warchavchik (1896 - 1972), Celso Antônio e Leo Putz -, assim como a reestruturação das Exposições Gerais de Belas Artes e dos prêmios de viagem ao exterior estão entre as metas primeiras do arquiteto.
O Salão Revolucionário, de 1931, é a expressão mais acabada do projeto modernizador da Enba. A comissão rompe as barreiras à arte moderna erguidas pelo antigo conselho, que é dissolvido, aceitando todos os trabalhos inscritos. Participam do Salão artistas de diferentes gerações, mas todos ligados de alguma forma às pesquisas da arte moderna: Tarsila do Amaral, com A Caipirinha, 1923 e A Feira II, 1925, entre outros; Victor Brecheret, com Fuga para o Egito, ca.1924; Anita Malfatti, com obras de 1915 e 1917 (por exemplo, O Homem Amarelo, 1915/1916 e A Estudante Russa, ca.1915); Ismael Nery, com O Luar (Dois Irmãos), ca.1925; Cicero Dias e seu painel Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife, 1926/1929. Alguns artistas se apresentam com um número maior de obras: é o caso de Guignard, com 27 pinturas e desenhos; Portinari, com 17 trabalhos; Pedro Luiz Correia de Araújo, com 15; e de Ismael Nery; com 7. Na avaliação do crítico e escritor Mário de Andrade, três novos artistas se firmam de forma definitiva no Salão: Vittorio Gobbis, Portinari e Guignard. "São para mim", diz ele, "as revelações do Salão".
As resistências e as campanhas movidas contra a gestão de Lucio Costa à frente da Enba, a despeito do apoio (sobretudo dos alunos), levam à sua demissão em setembro de 1931, não por acaso no mês em que o Salão Revolucionário abre as portas ao público.
Ficha Técnica
do evento Salão Revolucionário:
- Organização (Premiação)
-
Artista participante
/ Módulo (Premiação)
- A. Scavone / Pintura
- Affonso Eduardo Reidy / Arquitetura
- Alberto Delpino / Pintura
- Alberto Valença / Pintura
- Alcebíades de Noronha Miranda / Pintura
- Alejandro Baldassini
- Alexandre de Almeida (Medalha de Bronze)
- Alexandre de Almeida Anastácio / Pintura
- Alexandre de Lamare Garcia / Pintura
- Alfredo Herculano
- Aliberto Baroni
- Álvaro de Catanheda / Pintura
- Amadeu Zani
- Américo Rodrigues / Pintura
- Anita Malfatti
- Antônio de Pádua Dutra
- Antonio dos Santos Balouta
- Antonio Gomide
- Archimedes da Silva
- Archimedes Dutra
- Assis Camilo
- Augusto Souto Viegas Romano
- Áurea Palmeira
- Baltazar da Câmara
- Bas Domenech
- Basílio Nunes
- Belline Faria
- Benjamim Portela
- Bernardo Pinto da Silva
- Bonadei / Pintura
- Branca Dolabela
- Bustamante Sá
- Cândida Gusmão Cerqueira
- Candido Portinari
- Cardosinho
- Carlos Del Negro
- Carlos Oswald
- Carlota Camargo Nascimento
- Carlota Capper da Silva
- Celita Vaccani
- Celso Antônio
- Celso Kelly
- Cicero Dias
- Cordélia Delfino de Amorim Lima
- Coustol Júnior
- Del Pino
- Demétrio Lipousky
- Di Cavalcanti
- Dimitri Ismailovitch
- E. Percy Ellis
- Edson Motta
- Eduardo Bejarano Tecles Pol
- Eduardo Souto de Oliveira
- Élvia Barbosa Lima
- Emília Marckesini
- Eponina Muniz
- Ernest Vítor Saadeh
- Erwin Busse Grauand
- Ester Bessel
- Ester de Paula Sousa
- Euclides Fonseca
- Eunice Margarida da Silva
- Eustórgio Wanderley
- Fernando Lamarca
- Fernando Tarazona
- Flávio de Carvalho
- Flora Simões de Irajá
- Francinet Alves
- Francis Pelicheck
- Francisco Cimino
- Franz Heize
- Friedrich Maron
- G. Nino Bozzetti
- Gastão M. Gouveia
- Georgina Barbosa Viana
- Gerson Pompeu / Arquitetura
- Godofredo Paulo da Silva Feijó
- Gregori Warchavchik
- Guignard / Pintura
- Gustavo Rheingants
- Hans Nobauer
- Hans Reyersbach
- Hélio Feijó
- Hélios Seelinger
- Heloise Leonardos do Rêgo Barros
- Henrique Bernardelli
- Henrique Cavalleiro
- Henrique Elliot
- Herbert Artur Reiner
- Hernani de Irajá
- Herta M. A. Denerkman
- Hilda Campofiorito
- Hildegardo Velloso
- Honório Peçanha
- Hugo Bertazzon
- Humberto Cavina
- Humberto Cozzo
- Ignês Correia da Costa
- Iolanda Torres
- Iracema Gatti Lopes
- Ismael Nery
- Itiel Crockatt de Sá
- J. César Turatti
- Jacira Caldas
- Jardim de Araújo
- Jaziel Luz
- Jeanne Louise Milde
- João Batista Ferri
- João Fernandes Ribeiro
- João Gomes
- John Graz
- Jordão de Oliveira
- Jorge Soubre
- José Caldas
- José dos Santos
- Joubert Fernandes
- Judite Nascimento Gabus
- Katharina Sresnevska
- Lasar Segall
- Laurinda Pacheco de Carvalho Ribeiro
- Laurindo Ramos
- Leo Putz
- Leopoldo Gotuzzo
- Lotte Benter Bogdanoff
- Lúcia Caldas Tibyriça
- Lucio Costa
- Luiz Abreu
- Luiz Monteiro
- Madeimoiselle Magdeloux
- Manoel Faria
- Manuel Ferreira de Castro Filho
- Manuel Ferreira Gomes
- Manuel Gomes Moreno
- Manuel Inácio da Silveira
- Marcelo Roberto
- Maria Antonieta dos Santos
- Maria de Lourdes Romer Bendersry
- Maria Delfino de Amorim Lima
- Maria Elisa Dourado de Cerqueira Biao
- Maria Hermínia Lisboa
- Mário de Murtas
- Mário Nunes
- Martinho de Haro
- Max Grossmann
- May de Bernstorff
- Mimi Hotze
- Moacir Alves
- Moema Granja Machado Vieira
- Monaco Elena
- Moussia
- Murilo Lagreca
- Natalício Saraiva
- Nelson Gonçalves Neto
- Nicolau Del Negro
- Nieta Gomes
- Odelia Castelo Branco
- Olga Mary Pedrosa
- Orlando Teruz
- Otávio Chermont Rayol
- Palmira Pibernat Pedra Domenech
- Paulo Mazzuchelli
- Pedro Luiz Correia de Araújo
- Quirino da Silva
- Randolfo Barbosa
- Raul Pedrosa
- Regina Graz
- Rescála
- Roberto de Almeida
- Roberto Fantuzzi
- Robespierre de Faria
- Roque di Chiaro
- Rosalina Cândido Mendes Almeida
- Rosalvo Simões
- Rossi Osir
- Rubem de Faria Viana
- Rute Prado Guimarães
- Sadie M. Taves
- Salvador Alcaro
- Salvador Lettieri
- Salvador Pujals Sabaté
- Sarah
- Sebastião Vieira Fernandes
- Sigaud
- Sílvia Meyer
- Solange de Frontin Hess
- Sylvio Aragão
- Tarsila do Amaral
- Vanda Turati
- Vicente Leite
- Victor Brecheret
- Vittorio Gobbis
- Waldemar da Costa
- Waldemar Ferreira Braga
- Zaco Paraná
Fontes de pesquisa (16) 
- MORAIS, Frederico. Panorama das artes plásticas: séculos XIX e XX. 2. ed. rev. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1991. 164 p.
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- PEREGRINO JUNIOR. O Salão nº 38. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, Ano III, nº 46, 12 set. 1931. Disponível em: < http://memoria.bn.br/DocReader/003581/5760 >. Acesso em: 23 maio 2018.
- PEREIRA, Sônia Gomes (org). 185 anos de Escola de Belas Artes, Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Escola de Belas Artes/ UFRJ, 2001-2002.
- PONTUAL, Roberto. Entre dois séculos: arte brasileira do século XX na coleção Gilberto Chateaubriand. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1987.
- SALÃO de 1931. Curadoria Lucia Gouvêa Vieira. Rio de Janeiro: Funarte, 1984.
- VIEIRA, Lucia Gouvêa. Salão de 1931: marco da revelação de arte moderna em nível nacional. Rio de Janeiro: Funarte, 1984. (Temas e debates, 3).
- XXXVIII Exposição Geral de Belas Artes. O Jornal, Rio de Janeiro, 06 set. 1931. Disponível em: < http://memoria.bn.br/DocReader/110523_03/9804 >. Acesso em: 23 maio 2018.
- ZANINI, Walter (Coord.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983. v.2.
- ZANINI, Walter. A arte no Brasil nas décadas de 1930-40: o Grupo Santa Helena. São Paulo: Nobel; Edusp, 1991.
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SALÃO Revolucionário. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento84519/salao-revolucionario>. Acesso em: 08 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7