Título da obra: O Casamento do Pequeno Burguês


Registro fotográfico Joel La Laina Sene
O Casamento do Pequeno Burguês
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1986
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Joel La Laina Sene
Registro fotográfico Joel La Laina Sene
Histórico
Segundo espetáculo do Grupo Pão e Circo, a montagem de O Casamento do Pequeno Burguês transforma a obra de Bertolt Brecht (1898-1956) e Kurt Weill (1900-1950) em um pastelão musical - encenação anárquica e demolidora de Luís Antônio Martinez Corrêa (1950-1987).
O texto é uma criação coletiva inspirada em O Casamento, escrito pelo dramaturgo alemão em 1921, que narra uma festa na qual se descobre que a noiva está grávida e os móveis, pretensamente sólidos construídos pelo noivo, esfacelam-se na mesma velocidade alucinante em que se deterioram os modos dos convivas.
Luís Antônio Martinez Corrêa, que já havia trabalhado com outros dois textos de Brecht em suas primeiras experiências teatrais na cidade de Araraquara, resolve subverter a obra, mantendo apenas o argumento, as personagens e partes e diálogos selecionados, sempre observando os princípios e métodos do autor.
A peça, inaugura horário alternativo às segundas-feiras no Teatro Oficina, estendendo a área de encenação do porão à parte externa e ao bar do teatro (integrando os espectadores à cena, como se estes fossem os convidados do casamento), mas, com a interdição pela Censura, do polêmico espetáculo Gracias, Señor, de José Celso Martinez Corrêa (1937), O Casamento do Pequeno Burguês passa a ocupar o palco do Oficina substituindo, às pressas, a montagem proibida.
A encenação é repudiada por parte da crítica especializada, que a considera uma perversão da obra original. Paradoxalmente, o crítico Macksen Luiz (1945) aponta O Casamento do Pequeno Burguês como "uma das poucas montagens conformes com a visão de mundo de Brecht".1
A realização tem caráter essencialmente experimental, e a ousadia do grupo é descrita pela crítica Ilka Marinho Zanotto (1930): "O mais é uma colagem monstruosa, alucinada, maravilhosa, às vezes cansativa, disposta em cinco 'rounds' como Mahagonny (comer, beber, lutar, amar, acabar a palhaçada); anárquica, como a negação de Baal; sarcástica como Tambores na Noite - e cuja estrutura flexível reorganiza-se em configurações novas de caleidoscópio, sensíveis às reações do público. O 'happening' é a tônica deste casamento em que os convidados e os anfitriões repartem democraticamente com duendes e coristas a tarefa de dar prosseguimento à ação dramática".2
O cenário, assumidamente mal acabado, é composto de um telão pintado ao estilo expressionista, cartazes, nuvens e luas prateadas suspensas do teto e móveis improvisados. Os figurinos, adereços e máscaras denotam a influência do cinema mudo, recriando o clima chapliniano do filme Tempos Modernos. O elenco compensa a inexperiência com garra, inteligência e paixão. "Em resumo, um espetáculo insólito, caótico, às vezes lindo, outras menos, mas sempre grotesco e intrigante, com todos os defeitos de suas qualidades".3
O Casamento do Pequeno Burguês recebe o Prêmio Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), de revelação de diretor para Luís Antônio Martinez Corrêa e o prêmio de melhor atriz para Analu Prestes (1952). Participa do Festival de Nancy, França; e viaja pela Europa, apresentando-se na Alemanha, Suíça e Itália. O grupo, rearticulado, muda-se para o Rio de Janeiro e realiza mais dois espetáculos, Titus Andronicus, de William Shakespeare (1564-1616) e Simbad, o Marujo, primeira incursão do diretor pela linguagem do teatro de revista.
Notas
1. LUIZ, Macksen. Brecht debaixo do equador. Opinião, n. 98, set. 1974. p. 22.
2. ZANOTTO, Ilka Marinho. O casamento do pequeno burguês. São Paulo, O Estado de S. Paulo, 9 jul. 1972. In: Anuário das Artes, 1972. p. 50.
3. Idem
Registro fotográfico Joel La Laina Sene
Escola de Arte Dramática (EAD)
Teatro Santo Antônio (Salvador, BA)
Teatro Café Pequeno
LUIZ, Macksen. Brecht debaixo do equador. Opinião, n. 98, set. 1974. p. 22.
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