Título da obra: Depois da Queda


Registro fotográfico Arquivo Paulo Autran
Depois da Queda
,
1964
Registro fotográfico Arquivo Paulo Autran
Montagem do Teatro Maria Della Costa (TMDC), conduzida por Flávio Rangel (1934-1988). O texto, de Arthur Miller (1915-2005), é encenado em Nova York em 1964. Flávio assiste à estreia e se entusiasma, assinando a primeira montagem da peça fora dos Estados Unidos. O enredo apresenta traços autobiográficos do autor, enfocando a convivência e o casamento entre um intelectual e uma pop star cinematográfica, inspirados no relacionamento do próprio Arthur Miller com Marilyn Monroe (1926-1962).
O clima de mistério que pesa sobre o final da vida de uma das mais cobiçadas e enigmáticas atrizes de Hollywood, torna Depois da Queda digna de grandes especulações na imprensa e cria suspense sobre ela. Estruturada com recursos expressionistas, a peça alterna cenas do passado e do presente, bem como os cortes do fluxo narrativo através das reminiscências e indagações de Quentin, constituindo um material dramático de grande qualidade nas mãos de uma equipe sensível e um diretor habilidoso. Maria Della Costa (1926-2015) vive Maggie enquanto Paulo Autran (1922-2007) dá corpo a Quentin, à frente de numeroso e competente elenco. Flávio Rangel comanda a realização, fazendo incidir a tônica dramática sobre Quentin, a fim de manter a tensão do espetáculo. Flávio Império (1935-1985) compõe uma cenografia estruturada em planos, sem móveis e adereços, possibilitando um uso moderno do espaço cênico, valorizado pelos efeitos de iluminação.
O crítico Décio de Almeida Prado (1917-2000) não poupa elogios à encenação: "Não há muito o que se dizer sobre o trabalho de Flávio Rangel [...] os elogios que lhe cabem estão assim disseminados por todo o espetáculo - um dos mais harmoniosos que jamais vimos no teatro nacional". Sobre os intérpretes, destaca: "Quentin é um espelho que reflete as demais personagens. É pura consciência, pura subjetividade. Assim o interpreta Paulo Autran, como um homem mais de pensamento que de ação, dividido sempre pelo seu agudo senso de autocrítica. [...] Maria Della Costa, como Maggie, é ao contrário pura animalidade, pura inconsciência - qualidades não intelectuais que atraem poderosamente o intelectual - ou pelo menos essa é a imagem que fabricou para si mesma, o abrigo em que se refugiou. [...] Lado a lado, Paulo e Maria formam um par perfeito, acompanhando com exemplar maleabilidade as variações do texto. Surpreende-nos não tanto a sinceridade, a emoção autêntica - virtudes que não faltam ao nosso melhor teatro - como o excelente domínio técnico".1
Assistida por um empresário argentino, este conduz Flávio Rangel e o cenógrafo Flávio Império a repetirem, em Buenos Aires, a mesma encenação, também lá coroada de êxito.
1. PRADO, Décio de Almeida. 'Depois da Queda'. In: ______. Teatro em Progresso. São Paulo: Martins: 1964. p. 297-304.
Registro fotográfico Arquivo Paulo Autran
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